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Edição de sexta-feira, 06 de Março de 2015

Geni

Jaime Capra - 09/03/2015 10:12 (atualizado em 09/03/2015 10:26)
GENI
Terminou a greve dos caminhoneiros, dos motoristas, das transportadoras, dos agricultores, dos empresários e da prefeitura de São Miguel do Oeste. Terminou de forma simples e convencional. O Governo deixou impactar os danos e os prejuízos até estressar os grevistas e seus apoiadores. Usou os recursos e meios de que dispõe, isto é a força, para por fim ao movimento.
Por enquanto, as concessões são mínimas. Não passam da sanção da lei que regulamenta alguns pontos do obsoleto sistema de transportes brasileiro.
Prometeu alguma coisa. Os grevistas afirmaram que o fim é apenas uma trégua e poderá retornar se não houver concessões.
Terminado o movimento, não faltaram críticas ao Governo, especialmente à Dilma Rousseff pelo resultado e suas nefastas consequências. Os líderes do movimento culpam o Governo pelos prejuízos. Foram orientados por seus apoiadores, os mesmos que os deixaram de calças na mão.
Os oportunistas, entidades empresariais, prefeitos e partidários da terra arrasada que se imaginaram capazes de derrubar o governo, ao perceber o rombo procuraram uma tangente. Pediram o fim do movimento. Com a saída “honrosa” pensam enganar alguns por algum tempo, mas não enganarão a todos o tempo todo. O apoio foi um grande mico e o tiro saiu pela culatra. “Vi AINE ausgelaufne bugs, vi di fririche vagen”.
Os mentores e apoiadores de ocasião dessa greve contra si próprios, inspirados pelos perdedores que não se convencem do resultado das eleições, precisam encontrar um bode expiatório. Pelo que a mídia reacionária e golpista difundiu exaustivamente, acabaram ressuscitando a música Geni e o Zepelim de Chico Buarque, cuja letra vai transcrita na íntegra. 
De tudo que é nego torto/Do mangue e do cais do porto/Ela já foi namorada/O seu corpo é dos errantes/Dos cegos, dos retirantes/É de quem não tem mais nada.
Dá-se assim desde menina/Na garagem, na cantina/Atrás do tanque, no mato/É a rainha dos detentos/Das loucas, dos lazarentos /Dos moleques do internato.
E também vai amiúde/Com os velhinhos sem saúde/E as viúvas sem porvir/Ela é um poço de bondade/E é por isso que a cidade/Vive sempre a repetir.
Joga pedra na Geni!/Joga bosta na Geni!/Ela é feita pra apanhar!/Ela é boa de cuspir!/Ela dá pra qualquer um!/Maldita Geni!
Um dia surgiu, brilhante/Entre as nuvens, flutuante/Um enorme zepelim /Pairou sobre os edifícios/Abriu dois mil orifícios/Com dois mil canhões assim.
A cidade apavorada/Se quedou paralisada/Pronta pra virar geleia/Mas do zepelim gigante/Desceu o seu comandante/Dizendo: "Mudei de ideia!"
Quando vi nesta cidade/Tanto horror e iniquidade/Resolvi tudo explodir/ Mas posso evitar o drama/Se aquela formosa dama/Esta noite me servir.
Essa dama era Geni!/Mas não pode ser Geni!/Ela é feita pra apanhar/Ela é boa de cuspir/Ela dá pra qualquer um/Maldita Geni!
Mas de fato, logo ela/Tão coitada e tão singela/Cativara o forasteiro/O guerreiro tão vistoso/Tão temido e poderoso/Era dela, prisioneiro.
Acontece que a donzela/(E isso era segredo dela)/Também tinha seus caprichos/E ao deitar com homem tão nobre/Tão cheirando a brilho e a cobre/ Preferia amar com os bichos.
Ao ouvir tal heresia/A cidade em romaria/Foi beijar a sua mão/O prefeito de joelhos/O bispo de olhosvermelhos/E o banqueiro com um milhão.
Vai com ele, vai, Geni!/Vai com ele, vai, Geni!/Você pode nos salvar/Você vai nos redimir/Você dá pra qualquer um/Bendita Geni!
Foram tantos os pedidos/Tão sinceros, tão sentidos/Que ela dominou seu asco/Nessa noite lancinante/Entregou-se a tal amante/Como quem dá-se ao carrasco.
Ele fez tanta sujeira/Lambuzou-se a noite inteira/Até ficar saciado/E nem bem amanhecia/Partiu numa nuvem fria/Com seu zepelim prateado.
Num suspiro aliviado/Ela se virou de lado/E tentou até sorrir/Mas logo raiou o dia/E a cidade em cantoria/Não deixou ela dormir.
Joga pedra na Geni!/Joga bosta na Geni!/Ela é feita pra apanhar!/Ela é boa de cuspir!/Ela dá pra qualquer um!/Maldita Geni!

APOIOS
Estou aguardando uma nova greve dos caminhoneiros com o apoio das empresas e da prefeitura. A categoria a que pertenço - colunista de banheiro segundo palavras de eminente personalidade ou insano segundo um proeminente puxa sacos que vive pendurado nos ditos para manter um emprego público - não tem o poder de parar a economia. Por isso vou aderir à greve dos outros.
Não sou analfabeto político: ouço, falo e participo dos acontecimentos. Também não sou burro a ponto de estufar o peito para dizer que odeio política. 
Quero fazer greve porque sei que a economia de R$ 18 bilhões anunciada pelo Ministro da Fazenda (do PSDB) por meio da restrição de direitos dos trabalhadores, velhos e doentes, representa menos do que os R$ 20 bilhões guardados por brasileiros nas contas secretas do HSBC na Suíça. Sei também que o ministro não tem disposição para adotar a reforma tributária e a taxação das grandes fortunas, porque mexe com a elite de direita. Também sei que o impostômetro do calçadão é uma farsa, porque esconde o sonegômetro. 
Nos últimos dois anos, o governo federal deixou de arrecadar R$ 200 bilhões de Reais pelas isenções concedidas ao setor empresarial, dos quais nem um centavo favoreceu os consumidores.
Vou ser mais claro: o governo baixou o IPI e reduziu o INSS sobre a folha de pagamento. Subsidiou juros sobre financiamentos. Procrastinou aumentos de combustível e energia elétrica para facilitar a vida daqueles que fizeram e apoiaram a greve. 
Vou aderir à nova greve, porque quero anistia das multas dos caça-níqueis, do IPTU e taxa de lixo, majorados pelo prefeito bonzinho que dá tapinhas nas costas. Quero um cargo público na prefeitura, onde eu possa usar o facebook durante o expediente para falar mal da Dilma e do PT. Quero que sejam anulados meus cadastros no SPC e SERASA por atrasar o pagamento do supermercado. Quero subsídio nos juros dos empréstimos para velhos. Quero ter direito a um bloco de produtor rural para comprar uma caminhonete pelo programa mais alimentos. Quero uma casa nova sobre minha terra, pagando não mais que treze mil reais. Quero também comprar um caminhão de nove eixos, financiado a juros subsidiados, com câmbio eletrônico, ar condicionado e GPS, para viajar pela América do Sul com combustível a preço reduzido, prestações postergadas, isenção no pedágio, paradouros públicos e gratuitos e comida de graça. Quero também que a Dilma acabe com o bolsa família e corte o fornecimento de losartana, aerolin, metformina e sinvastatina, para acabar com os pobres e doentes. Quero enfim que todo o povo morra, para que eu fique rico vendendo chapéus. Por fim, quero uma greve só de pobres, para que Machado de Assis ressuscite e chame o filósofo Quincas Borba para gritar aos quatro ventos: "Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas".

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