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Vai morar junto?

Nem sempre a afinidade entre duas pessoas cabe em um apartamento

Relacionamento - 05/05/2015 11:15 (atualizado em 30/11/-0001 00:00)
Li na coluna do Bruno Astuto que Camila Pitanga está morando com o namorado, cujo nome a inveja me fez esquecer. Desejo sorte a eles. Esse negócio de viver junto, sobretudo quando se tem filho, como ela tem, é um desafio. Mais de uma relação promissora naufragou nas rochas da rotina. Se você dorme e acorda com a mesma pessoa todos os dias, e briga para decidir quem vai lavar a louça ou fazer supermercado, cresce o risco de que o romance perca a graça. Mesmo se for com a Camila Pitanga.
Gente legal que eu conheço tem optado por viver em casas separadas. Você com os seus filhos lá. Eu com os meus cá. De vez em quando a gente se junta. Quando o estresse entre crianças ou adultos crescer, cada um retorna ao seu espaço. Dizem que é uma fórmula mais tranquila do que reunir todas as partes e todos os problemas no mesmo espaço, durante todo o tempo. Faz sentido.
Mesmo para quem não tem filhos, as casas separadas podem ser uma solução. Nem sempre a afinidade entre duas pessoas cabe nos 60 metros quadrados de um apartamento padrão. Os gostos são diferentes, os hábitos são outros. Alguns detestam TV, outros odeiam música alta. Muitos de nós têm necessidade de estar sozinhos. Dormir  a dois é bom, mas precisa ser todos os dias? Não.
Digo isso com a autoridade de quem prefere o convívio diário. Adoro uma mulher de óculos lendo ao meu lado na hora de dormir. Adoro os pés descalços dela no meu colo enquanto vemos TV. Adoro a banalização da sua nudez, a presença macia e cheirosa se espalhando pela casa e pela vida. Ao longo de diferentes relacionamentos, isso nunca constituiu um problema. Sou dos que gostam de morar junto.
Ainda mais do que eu, há gente que não admite o amor se ele não toma a forma de um endereço comum; percebe como rejeição a recusa em dar esse passo, que considera natural. “Se não quer morar comigo não me ama. Ou, pior, está querendo fazer coisas em paralelo.” Eu não acho que seja assim. Sei que as pessoas podem amar e não querer viver na mesma casa. Há que entender as necessidades de cada um. E respeitar seu tempo.
Muitos homens se sentem incomodados pelos controles que a coabitação impõe. Muitas mulheres gostariam de ter um espaço apenas delas. Chegar em casa, tomar um banho e abrir a geladeira sem ser perturbado pode ser uma sensação deliciosa – desde que, por trás dela, não haja um sentimento opressivo de solidão. Quando se sabe que amanhã alguém que a gente ama vai passar pela porta, estar sozinho pode ser a melhor coisa do mundo.
Viver um longo amor em endereços diferentes continua incomum, porém. O grande exemplo ainda é um casal que se desfez em 1980, quando o filósofo, escritor e ativista francês Jean-Paul Sartre morreu. Sua mulher de toda a vida, a escritora Simone de Beauvoir, partiria seis anos depois. Por 52 anos eles dividiram tudo, exceto o endereço.
Simone e Sartre viraram uma referência chique para quem acredita que um grande amor não tem de ser vivido de forma convencional. Eles nunca tiveram filhos, porém. Por isso, prefiro o exemplo concreto dos meus amigos que têm filhos e escolheram viver em casas separadas. Eles são parte de uma suave revolução que cresce à nossa volta. Abrem caminhos que outros de nós poderemos trilhar no futuro.

Fonte: GQ Brasil
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