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Primeiro ambulatório para pessoas trans em SC completa um mês de atendimento na Lagoa da Conceição

Cerca de 30 transgêneros já passaram pelo Centro de Saúde da Lagoa às segundas-feiras à noite; Expectativa é de ampliar o serviço no município

Saude - 27/08/2015 10:45 (atualizado em 30/11/-0001 00:00)
Enquanto a expectativa de vida do brasileiro aproxima-se dos 75 anos, pessoas trans (transgênero, transexuais e travestis) não costumam ultrapassar o 35º aniversário. O principal motivo é a violência: conforme relatório da ONG internacional Transgender Europe, entre janeiro de 2008 e abril de 2013 o Brasil registrou 486 mortes de transexuais. São quase 100 assassinatos por ano, estatística que torna o país um dos mais transfóbicos do mundo. 

Além da violência impulsionada pelo preconceito, essa população também tem dor de barriga, unha encravada ou diabetes. Para atendê-la em Florianópolis, foi criado no início de agosto um ambulatório voltado às pessoas que não se identificam com o gênero (masculino ou feminino) atribuído no momento do nascimento. O atendimento é feito por quatro médicos da Residência em Medicina da Família e Comunidade todas as segundas-feiras, das 18h às 22h, no Centro de Saúde da Lagoa. 

— Transexuais e travestis por vezes deixam de ter atenção primária em saúde por vergonha, medo ou preconceito. É uma inequidade, porque elas também têm direitos. Aqui é um espaço de acolhimento, onde as pessoas são chamadas pelo nome que escolheram — explica o médico Thiago Campos, um dos responsáveis que buscou inspiração no Uruguai para propor o projeto na Secretaria Municipal de Saúde de Florianópolis. 

Pesquisas indicam que exista um transgênero feminino para cada 20 mil pessoas (homem para mulher) e um transgênero masculino (mulher para homem) para cada 50 mil pessoas no mundo. Para a pesquisadora do Núcleo Modos de Vida, Família e Relações de Gênero (Margens) da Universidade Federal de Santa Catarina, Maria Juracy Toneli, o acolhimento a esse público é essencial. 

— Esse público já enfrenta segregação diariamente e ser atendido em um espaço junto de outras pessoas é bastante significativo — analisa. 
Possibilidade de expansão

Já foram quatro noites de serviços prestados para aproximadamente 30 pessoas. A meta é expandir o serviço para outros bairros da Capital. 

— Precisamos saber de onde as pessoas estão vindo para qualificar a equipe da rede municipal e passar a atender em outros lugares. Enquanto médicos da família que somos, enxergamos os pacientes como pessoas — avalia o médico Thiago Cherem. 

É o sétimo ambulatório nesse formato no Brasil, sendo o segundo da região Sul. A iniciativa é inédita pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em Santa Catarina. Existem articulações com o governo do Estado para ampliar o atendimento a outros municípios. 
Além da hormonoterapia

Christian Mariano, 43, faz parte do público-alvo do novo ambulatório na Lagoa. Ele nasceu menina, mas há três anos descobriu-se homem e iniciou tratamento hormonal [hormonoterapia] para a transformação física. Na última segunda-feira, veio fazer acompanhamento médico no Centro de Saúde da Lagoa.

— Poder ter atenção à hormonoterapia para homens trans e cuidar de outros assuntos é o diferencial desse espaço, que é livre de julgamentos. Já passei por situações de preconceito e aqui sou chamada pelo nome que escolhi, o que pode ser pouca coisa, mas faz muita diferença — garante Christian, que também tratou de problemas dermatológicos e deu início à investigação de um cisto durante a consulta.

Vindo diretamente do Pará, Elder Inácio, 22, chegou animado para iniciar o tratamento hormonal em Florianópolis há poucos meses. Ele diz que o espaço é o início para tudo.

— Não quero ficar assim do jeito que sou. O dia que eu puder retirar meus seios vou tirar uma foto sem camisa. Estou feliz que essas portas estejam se abrindo para isso — comemora.

Segundo o Ministério da Saúde, o acompanhamento ao tratamento hormonal, que garante a transformação física, é imprescindível para evitar o aparecimento de trombose e câncer.

O que diz a lei

Portaria nº 2.803, de 19 de novembro de 2013, do Ministério da Saúde: Redefine e amplia o Processo Transexualizador no Sistema Único de Saúde (SUS). É prevista capacitação e sensibilização dos profissionais de saúde para lidar, de forma humanizada, com transexuais e travestis tanto na atenção básica sem discriminação, quanto na especializada. Também assegura o direito de a pessoa ser tratada pelo nome social, além de aprimorar a conduta do atendimento oferecido pelo SUS a esse público específico.

Plano Municipal de Políticas Públicas e Direitos Humanos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros, de 26 de dezembro de 2012, da Prefeitura de Florianópolis: Promover a transversalidade na proposição e implementação das políticas públicas municipais. Propõe o combate à homofobia por meio de ações integradas entre as áreas de segurança, educação, assistência social e saúde.

Serviço
O quê: Ambulatório para pessoas travestis, transexuais, transgênero
Onde: Centro de Saúde da Lagoa — Rua João Pacheco da Costa, 255, Lagoa da Conceição, Florianópolis
Quando: Todas as segundas-feiras, das 18h às 22h
Quanto: gratuito pelo Sistema Único de Saúde (SUS), exceto a maioria dos hormônios utilizados em tratamento
Como: agendamento de consultas feito via Associação em Defesa dos Direitos Humanos com Enfoque na Sexualidade (ADEH) pelo telefone (48) 3371-0317 ou no próprio local
Contato: ambulatorio.mfc.trans@gmail.com ou (48) 3232-0639, 3233-6990, 3234-4322.
Fonte: Diário Catarinense
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