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Piraqué: O rio está pra peixe

Para exaltar o Dia Mundial do Meio Ambiente, comemorado neste domingo, dia 5 de junho, o Jornal Expresso d’Oeste apresenta o projeto Piraqué. Reportagem elaborada pelas acadêmicas do curso de Jornalismo da Unochapecó, Adriana Friedrich e Ana Cláudia Tasca voltado para a aquicultura

Especial - 03/06/2016 10:30
ÁGUAS DE CHAPECÓ/SÃO CARLOS –Com o objetivo de preservar a diversidade de peixes migradores nativos do rio Uruguai existe o projeto Piraqué, uma das atividades pioneiras do Instituto Goio-En. Mantido pela Fundação Universitária do Desenvolvimento do Oeste (Fundeste), o projeto desenvolve pesquisas e tecnologias para a preservação e produção de espécies e disponibiliza peixes nativos para o repovoamento e cultivo comercial.
Recentemente, visando minimizar os impactos sobre a ictiofauna, ou seja, um conjunto de espécies de peixes que existe numa determinada região, garantindo adiversidade genética dos peixes nativos migradores do Rio Uruguai, o Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA) e a Foz do Chapecó Energia S/A, passaram a investir no projeto.
O Piraqué é responsável pela primeira reprodução em cativeiro de dourado e piracanjuba na bacia do Rio Uruguai. As espécies nativas estão em extinção em algumas regiões do Rio Grande do Sul e o projeto possui domínio tecnológico para fazer a reprodução em cativeiro. O instituto trabalha com duas estações de piscicultura, uma no município de São Carlos e outra em Águas de Chapecó.
Construída as margens do lago da hidrelétrica, a área de dezesseis hectares no município de Águas de Chapecó é responsável pelo funcionamento do projeto. Para se instalar, a hidrelétrica cedeu o terreno e o Ministério da Pesca construiu a estrutura no local. Uma adutora traz a água de dentro do lago da hidrelétrica até a estação. A hidrelétrica Foz do Chapecó deve repor ao rio 200 mil alevinos por ano, devido ao impacto ambiental causado pela sua construção. O investimento que a hidrelétrica fez no projeto será pago em peixes. Em 2013 a estação de Águas de Chapecó passou a funcionar e obteve sucesso com a produção de 500 mil alevinos.

COMO FUNCIONA

O instituto capacita pescadores para que eles entendam o objetivo do projeto e da preocupação com impacto ambiental por meio do repovoamento. Isso garante a pesca e a sustentabilidade das famílias ribeirinhas. Por meio de treinamentos os pescadores pescam as matrizes de forma que elas cheguem saudáveis até a estação. Os pescadores são profissionais cadastrados que possuem licença para pescar e vender os peixes, exceto na época da piracema em que os peixes estão se reproduzindo.
Chamadas de F1, cada matriz recebe um transponder (chip) ao ser capturada e por meio de um banco de dados os pesquisadores tem um controle sobre as condições do peixe. Esse processo resulta na qualidade da produção, oferece um parâmetro para o processo reprodutivo e evita cruzamentos entre irmãos. 
O projeto possui mais de três mil matrizes que compõem o banco genético de reprodução e tenta cumprir o propósito do repovoamento o mais próximo do que acontece no rio. “O rio eu não vou conseguir imitar, mas eu faço tudo o que posso para colocar a melhor diversidade genética de peixes dentro do rio”, afirma a diretora do instituto, professora Rose Maria de Oliveira Mendes.
Nos meses de maio e junho é feita a biometria, que consiste em secar o açude. Neste período os pesquisadores realizam a pesagem, medidas e verifica-se a sanidade e condição de saúde de cada matriz. Entre outubro e fevereiro, acontece o processo reprodutivo de alevinos. 
De acordo com o engenheiro agrônomo responsável pela estação Sidinei Follmann, a produção das matrizes inicia no mês de outubro quando a temperatura da água chega aos 24 e 25 Cº. “As atividades feitas na reprodução são devidamente controladas, a água passa por um sistema de filtragem e a temperatura é ajustada por um sistema de aquecimento para garantir que o processo seja o mais eficiente possível”.
Para o processo de reprodução são retirados os óvulos das fêmeas e o sêmen dos machos e colocados em um tanque onde ocorre o processo de fecundação. Depois que as larvas nascem, são transferidas para um tanque com oxigenação e são alimentadas com uma substância de auto custo. A estação tem capacidade de produção de 800 mil até um milhão de alevinos por ano.
Follmann destaca a importância dos cuidados com a água que é trazida do lago da hidrelétrica até os açudes para o manejo do projeto.

DESTINO DA PRODUÇÃO

O principal objetivo do projeto é dominar a genética e a reprodução adequada dos peixes nativos, além de reproduzir as espécies nativas dentro das melhores condições possíveis em cativeiro para poder repovoar e devolver a biodiversidade aos rios.
A soltura dos alevinos é determinada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) que norteia um ponto do rio para realizar a entrega. Até em 2013 o instituto realizava a soltura, porém é um processo de auto custo. Atualmente o instituto faz toda a sanidade animal, com acompanhamento de um veterinário e o processo é feito por outros órgãos.
A produção também é destinada ao Ministério Público Federal, em casos de ajustes de conduta como, por exemplo, multas que um agricultor precisa pagar. O agricultor faz a compra, o Ibama passa as coordenadas do local onde deve ser feita a soltura e o instituto faz a ação. O processo é acompanhado pelo Ibama, Fundação do Meio Ambiente (Fatma) e Polícia Ambiental.

OS PEIXES

O projeto possui aproximadamente 20 espécies para reprodução, dentre elas estão:  dourado, curimbatá, jundiá, pintado amarelo, surubim, suruvi, piracanjuba, piava e bocudo. Nos próximos dois anos o objetivo será intensificar a produção das espécies de piracanjuba e piava que estão em extinção. O banco genético dessas espécies será refeito com novas matrizes para seguir com o processo de reprodução até 2017.
A estação produz e entrega as espécies que são solicitadas. As hidrelétricas possuem um grupo de pesquisadores que indicam quais os tipos de peixes que devem ser entregues ou soltos nos rios. No caso da Foz do Chapecó o foco é a piava, o curimbatá e o dourado.  Cada soltura deve ter um estudo de viabilidade de espécies para ter um equilíbrio e assim o instituto se programa para a produção das mesmas.
O instituto também produz espécies para comercialização. Atualmente a estação de Águas de Chapecó possui 47 açudes, a intenção é de ampliar esse número para 70. Os açudes são construídos através de parcerias com o Ministério da Pesca e município.


ESPÉCIE EXÓTICA

O instituto está fazendo um estudo de viabilidade para trazer a espécie de tilápiaguift, peixe de alto valor agregado. Esta espécie exótica é resistente às condições da água da região. Ointuitoé trazer as matrizes da Malásia com aporte tecnológico para criar alevinos de alto padrão genético. A produção será destinada aos agricultores que vão criar os peixes para abastecer os frigoríficos da região.
Este projeto também visa a melhoria da renda dos agricultores familiares ao produzirem esta tilápia que tem a carne melhor e rende mais do que a tilápia comum de nossa região. Será um estudo de acompanhamento com protocolo genético, rastreabilidade e com matrizes de alto desempenho. Professores de várias áreas da Unochapecó estão ajudando a construir o plano de negócios para avaliar a viabilidade econômica e o total do investimento necessário.

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