Santa Catarina tem 16,4% de distorção de idade-série. O índice é quase a metade da média nacional, que chega a 34,4%.
Mesmo com dados positivos, a situação no Estado não deixa de ser preocupante: pelo menos 41,1 mil estudantes estão sujeitos aos efeitos negativos da distorção o que dá uma dimensão do que ainda precisa ser feito nesse quesito.
O levantamento de 2010 do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), do Ministério da Educação (MEC), que elencou esses números, aponta, inclusive, que há realidades diferentes quando se observam as escolas estaduais que oferecem o ensino médio em Santa Catarina.
Na região de Massaranduba, no Vale do Itapocu, três escolas estão entre as 20 estaduais com menores índices de distorção, com porcentagens variando entre 3% e 5,9%. Das 20 escolas estaduais que oferecem ensino médio que apresentam mais distorção, seis são da Capital. Não estar na série correta pode ocasionar dificuldades com os conteúdos, baixa autoestima e pouca identificação com os
colegas e até com o material didático.
— Todo o currículo é organizado para as pessoas que estejam em determinadas fases de ensino, da vida. Não seguir a série que corresponde à idade afeta vínculos com o conteúdo e a relação com as pessoas em sala — diz o professor do Centro de Educação da Universidade Federal de SC (UFSC) e pesquisador do ensino médio de escolas públicas Juares da Silva Thiesen.
Em algumas comunidades, os alunos acabam deixando a sala de aula para trabalhar, retornando anos mais tarde. Dificuldades financeiras e até problemas familiares contribuem para que os alunos acabem repetindo de ano.
Entre as soluções imediatas para manter o estudante na idade certa seria investimento nos alunos, com professores melhor qualificados e fazendo reformulação do conteúdo fornecido no ensino médio.
— A sala de aula precisa ser atrativa e a formação deve ser sólida para preparar o jovem para ter compreensão crítica de mundo — expõe Thiesen.
Outro ponto que precisa ser corrigido, segundo o professor do Programa de Pós-Graduação da Unisul Gilvan Luiz Machado Costa, é o fator estrutural das escola públicas.
— Muitas escolas não estão preparadas para atender o ensino médio, não têm laboratórios de química, biologia, e o laboratório de informática é subutilizado. Isso acaba desestimulando os alunos — afirma Costa.
Pesquisadores defendem um esforço entre Estado, escolas e comunidades para melhorar os números relacionados ao ensino médio.
— Os alunos precisam avançar não só em série, mas em conhecimento — defende o professor da Unisul.
O levantamento do Inep/MEC inclui no fator distorção os alunos matriculados com pelo menos dois anos de diferença em relação à faixa etária correspondente à série.
Estado usa outro índice para calcular percentual de
distorção
Em relação à distorção idade-série no ensino médio, a Secretaria de Estado da Educação de SC considera um outro levantamento. Para a pasta, estudantes matriculados com um ano a mais em relação à faixa etária correspondente à série endossariam os índices de distorção.
Diferentemente do Inep, enfoca-se na média entre todos os anos da fase e o ensino médio profissionalizante é descartado do cálculo. Por isso, enquanto o Inep considera que SC tem um percentual de 16,4% de distorção, a Secretaria trabalha com 20,5% para o Estado. Mesmo assim, os números estão bem abaixo da média nacional, de 34,4%. E não é só nessa lista que o Estado está entre os melhores.
O Censo Escolar 2011 do Inep apontou SC como o terceiro Estado com a menor taxa de repetência no ensino médio. Dados do movimento Todos Pela Educação também destacaram o Estado como a unidade da federação onde mais alunos concluíram o ensino médio até 19 anos, com o percentual de 69,1% em 2009.
Para a gerente do Ensino Médio, Maike Cristine Ricci, os indicativos positivos são reflexo do trabalho realizado no ensino fundamental. A estimativa é que, a partir do ano que vem, os registros de distorção sejam ainda menores, em função do programa de correção de fluxo, que começou este ano.
O plano, com base em dados de 2011, é voltado para alunos com 13 anos ou mais que cursavam o quinto ano e para aqueles com 14 anos ou mais que estavam no sexto ano do ensino fundamental. Até dezembro, esses alunos frequentarão aulas do programa, que envolve disciplinas de português, matemática, artes e educação física. No ano que vem, eles seguirão diretamente para o ensino médio. Entre os educadores, a medida gera polêmica, em relação ao preparo que esses alunos terão para acompanhar os anos seguintes.
A gerente do ensino fundamental da pasta, Marilene da Silva Pacheco, explica que o plano pretende corrigir as distorções de série, desenvolvendo habilidades por meio de atividades interdisciplinares para que o estudante tenha um bom desempenho no ensino médio. Mesmo assim, no ano que vem, deverá começar um trabalho de recuperação paralela, que auxiliará na correção de possíveis
defasagens de conteúdo.